terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Sarney Devia Ter Escutado Noblat

Antes da eleição no Senado, o jornalista Ricardo Noblat escreveu um artigo carinhoso endereçado a Sarney, em cujo conteúdo aconselhava o senador a desistir da disputa e se recolher a família. Escreveu Noblat: “Por que arriscar a saúde e a biografia depois dos 78 anos de idade?

Onde está a férrea disposição manifestada no ano passado de se dedicar mais à literatura, às suas memórias, à dona Marly, aos filhos e aos netos?

Você sempre foi um pai de família amoroso, mas ausente. A política é monogâmica. Ela não compartilha a cama com mais ninguém.

Pense a respeito, homem. E não me queira mal".

Mas Sarney não podia desistir. Queria cassar o governador Jackson Lago, livrar o filho Fernando dos inquéritos da PF e, ademais, como iniciar um relacionamento político com José Serra se não ocupasse a presidência do Senado? Mesmo assim, foi em frente, mas sabia dos riscos dessa decisão e assim, para quem antes queria ser ungido, o resultado apertado prenunciava tempos difíceis.

E do exterior, mais precisamente da Inglaterra, onde os jornais não temem Sarney, veio uma dolorosa pancada. A super prestigiosa revista The Economist, respeitada no mundo inteiro, publicou um artigo que estragou o clima de vitória e bajulação que o cercou em Brasília. Eis a matéria:

“A eleição de José Sarney para a presidência do Senado, nesta semana, representa "uma vitória para o semifeudalismo", segundo uma reportagem da revista britânica "The Economist" que chegou às bancas nesta sexta-feira.

A reportagem, intitulada "Onde dinossauros ainda vagam", comenta o passado político de Sarney e o número de vezes em que foi eleito para cargos públicos, afirmando que talvez fosse "hora de (Sarney) se aposentar". "Sarney pode parecer um regresso a uma era de políticas semifeudais que ainda prevalecem em alguns cantos do Brasil e puxam o resto dele para trás. Mas, com o apoio tácito de Luiz Inácio Lula da Silva, o presidente de centro-esquerda do país, ele foi escolhido esta semana para presidir o Senado", diz a revista.

A publicação diz ainda "que não é incomum que apenas um homem ou uma família domine Estados no nordeste, mas que isso estaria mudando. Mas o controle da família Sarney no Maranhão é reforçado pelo fato de ela ser proprietária de uma estação de TV que passa programas da Rede Globo e que, no meio das novelas, "costuma exibir reportagens favoráveis ao clã", diz a revista. "O controle das estações de televisão e rádio é particularmente útil no interior do Maranhão, onde a maioria do eleitorado é analfabeto, e onde Sarney encontra a maior parte de seu apoio".

Ainda assim, continua a revista, o poder da família poderia estar diminuindo, comentando a derrota de Roseana Sarney nas últimas eleições para governador, e as derrotas de alguns candidatos de Sarney nas eleições municipais do ano passado. "Sarney sempre diz que o Maranhão precisa votar nele para que ele traga dinheiro de Brasília", diz à revista Arleth Santos Borges, da Universidade Federal do Maranhão. "Na verdade, ele precisa do poder em Brasília para aumentar seu poder aqui", diz a especialista.”

Essa matéria deve ter doído muito no ego de Sarney. Ele se dedica com todo o afinco a construir uma imagem de intelectual e de estadista que é como gostaria de ser conhecido no mundo. E agora uma revista insuspeita como a The Economist vem com uma matéria mostrando ao mundo a verdade de anos de domínio no Maranhão.

Sua reação foi de raiva e vingança. Disse que a matéria era desconexa e leviana e iria pensar quais medidas tomaria contra a revista. Isto como se ele estivesse ameaçando jornais do Amapá ou o Jornal Pequeno do Maranhão...

E para completar, eis o que saiu no Blog de Reinaldo Azevedo da Revista Veja:

“Vocês viram o Apedeuta em um ataque de aparente esquizofrenia ao se referir às oligarquias brasileiras. Ele as atacou, mas livrou a cara de Sarney, seu aliado. Mais tarde, ensaiou uns vôos sociológicos, daqueles com a elegância de uma galinha, sobre o papel dos oligarcas no país. Parece que eles são nefastos, mas garantem a estabilidade... Vocês sabem. É uma daquelas horas em que deveria haver uma placa: "Cuidado! Lula pensando".

Uma das características mais marcantes de Lula é a afetação de sinceridade e espontaneidade em tudo o que diz. Ele é, sem dúvida, convincente. Sempre parece falar coisas que lhe saem do fundo da alma...
Ele marca dois momentos das relações do Apedeuta com os Sarney. Num discurso de 2000, o homem esculhamba o seu agora aliado, em particular Roseana Sarney. Em 2006, no palanque de Roseana, ela, que já houvera sido a sua articuladora no Congresso, é chamada de companheira leal”. Por fim, acaba a matéria mostrando, com ajuda de um vídeo, que a sinceridade de Lula em palanques depende do momento.

Que semana, Sarney! Não há como esconder o passado. Resta achar um jeito do IBGE esconder todos os dados de 2002 do Maranhão, compilados após 40 anos de oligarquia.Quem sabe falando com Lula?

Melhor seria dedicar-se aos livros e atender aos temores do seu amigo Noblat.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Polícia Federal suspeita que esquema atuou no Governo Roseana Sarney

Polícia quer também apurar se grupo se valeu de afilhados de Sarney em estatais para obter obras

Felipe Recondo, BRASÍLIA


A investigação feita pela Polícia Federal nas empresas da família Sarney mostra que o suposto esquema que envolveria integrantes do clã em lavagem de dinheiro, fraude em licitação e desvio de recursos públicos pode ter atuado no Maranhão durante a gestão de Roseana Sarney (PMDB-MA) no governo do Estado (1998- 2002). A PF quer investigar também se o grupo se valeu de contatos com pessoas indicadas pelo senador José Sarney (PMDB-AP) para cargos em estatais para obter vantagens em obras públicas.

De acordo com documento sigiloso da PF, uma das empresas investigadas - a Proplan - participou da execução do projeto de recuperação da Lagoa de Jansen, obra orçada em R$ 118 milhões. O caso, mesmo antigo, mereceu a atenção da PF na investigação aberta em 2007. Os policiais pediram à Justiça autorização para buscar documentos do empresário Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, no que seria a empresa de contabilidade da Proplan.

Além disso, em ofício sigiloso encaminhado à 1ª Vara Criminal Federal do Maranhão, a PF informa terem sido "frequentes os contatos promíscuos" entre os integrantes do esquema e o diretor de engenharia da estatal Valec, Ulisses Assad.

Assad foi diretor da Companhia de Águas e Esgotos do Maranhão (Caema) no governo Roseana e indicado para a diretoria da Valec por Sarney. Ele não foi encontrado para comentar a suspeita. Roseana disse, por meio de sua assessoria, que não poderia se manifestar sem antes ter acesso aos documentos da PF e lembrou que as contas de sua gestão foram aprovadas pela Justiça eleitoral.

GRAMPOS

Nessa mesma investigação, a PF grampeou telefonema entre Sarney e seu filho Fernando. Na conversa, revelada pelo Estado, o senador pergunta ao filho se ele recebera informações da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), supostamente sobre processo que, então, corria em sigilo. Fernando responde: "Também." (VEJA AQUI A ÍNTEGRA DO DIÁLOGO)

A escuta da Polícia Federal mostra ainda os dois combinando o uso das empresas de comunicação da família para responder a um artigo publicado por Aderson Lago, primo do governador do Maranhão, Jackson Lago, seu inimigo político. O diálogo foi publicado pelo jornal Folha de S. Paulo.

No texto que provavelmente motivou as reclamações de Sarney, Aderson o chama de "velho oligarca". Na conversa com o filho, Sarney reclama que Aderson "foi muito cruel" e o insultou de "maneira brutal". E pede que o filho leve para a televisão denúncias contra as empresas de Aderson.

Nesta semana, Sarney pode ver o adversário perder o mandato. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) deve concluir o julgamento do processo de cassação de Jackson Lago, interrompido no fim do ano passado. O relator do processo, ministro Eros Grau, votou pela cassação do mandato e a favor da posse da segunda colocada nas eleições, a senadora Roseana Sarney.

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Eleição de Sarney é vitória do Semifeudalismo


BBC Brasil: A eleição de José Sarney para a presidência do Senado, nesta semana, representa "uma vitória para o semifeudalismo", segundo uma reportagem da revista britânica "Economist" que chegou às bancas nesta sexta-feira.

A reportagem, intitulada "Onde dinossauros ainda vagam", comenta o passado político de Sarney e o número de vezes em que foi eleito para cargos públicos, afirmando que talvez fosse "hora de (Sarney) se aposentar".

"Sarney pode parecer um regresso a uma era de políticas semifeudais que ainda prevalecem em alguns cantos do Brasil e puxam o resto dele para trás. Mas, com o apoio tácito de Luiz Inácio Lula da Silva, o presidente de centro-esquerda do país, ele foi escolhido esta semana para presidir o Senado", diz a revista.


"Esta é a terceira vez em sua carreira que ele ocupa esse cargo poderoso, que dá a ele um grau de controle sobre a agenda do governo e oportunidades para nomear funcionários públicos."

De acordo com a revista, a escolha de Sarney vai fortalecer seu poder no Maranhão, "onde alguns moradores mantinham esperanças de que sua influência estivesse começando a ruir".

"O centro de São Luís está decrépito", diz a Economist. "As ruas estão cheias de buracos e a cidade conta com um número extraordinário de flanelinhas. Só no mês passado, houve 38 assassinatos na cidade de 1 milhão de habitantes".

A reportagem afirma que no interior do estado o atraso é "mais evidente", e cita o exemplo da cidade de Sangue, onde "muitas pessoas vivem em casas de um só cômodo, cujo telhado é feito de folhas de palmeiras, e que não têm nem água nem eletricidade".

"Os avanços educacionais no Estado são ruins. Sua taxa de mortalidade infantil, de 39 por mil nascidos vivos é 60% mais alta do que a média brasileira", cita a revista.


A Economist diz que não é incomum que apenas um homem ou uma família domine Estados no nordeste, mas que isso estaria mudando.

Mas o controle da família Sarney no Maranhão é reforçado pelo fato de ela ser proprietária de uma estação de TV que passa programas da Rede Globo e que, no meio das novelas, "costuma exibir reportagens favoráveis ao clã", diz a revista.

"O controle das estações de televisão e rádio é particularmente útil no interior do Maranhão, onde a maioria do eleitorado é analfabeto, e onde Sarney encontra a maior parte de seu apoio", diz a "Economist".


Ainda assim, o poder da família poderia estar diminuindo, afirma a revista, comentando a derrota de Roseana Sarney nas últimas eleições para governador, e as derrotas de alguns candidatos de Sarney nas eleições municipais do ano passado. "Sarney sempre diz que o Maranhão precisa votar nele para que ele traga dinheiro de Brasília", diz à revista Arleth Santos Borges, da Universidade Federal do Maranhão.

"Na verdade, ele precisa do poder em Brasília para aumentar seu poder aqui", diz a especialista.


Nota do Blog: A foto que ilustra esse post é a capa da edição de The Economist do dia 07 de Fevereiro de 2009, em que consta a matéria "A Brazilian Political Boss - Where Dinossaurs Still Roam - A victory for semifeudalism", acrescentada da frase manchete daquela, traduzida para o português. A foto foi obtida no próprio sítio eletrônico da revista e pode ser acessada aqui.