sábado, 18 de abril de 2009

Os Defuntos Deixam as Covas

Dava para se sentir num Coliseu redivivo. Antigos gladiadores do grupo Sarney, aparentemente mortos para a posteridade, ressurgiram nos corredores da Assembléia Legislativa, alguns envergando ternos novos e gravatas francesas, outros cheirando a naftalina e perfume de quinta, mas todos dando a impressão de que uma corte de defuntos acabava de deixar as covas.

Gente que o Maranhão não via há muito tempo e da qual não tinha boas recordações transitava com caras de múmias, todas querendo um abraço, todas querendo um afago, todos exigindo um mimo de Roseana Sarney, Sarney Filho e Ricardo Murad.

Dava para perceber as olheiras de quem dormiu durante muito tempo naqueles seres necrológicos que disputavam a proximidade da rainha, cada um com mais sede de sangue e poder.

Nem parecia verdade! O fantasma de Paulo Marinho circulava sorridente, sempre processado, nunca igualado, trocando opiniões sobre administrações transparentes e corretas. Gastão Vieira assumiu um ar professoral na sua humilde intenção de ser secretário de Educação e construir três escolas, se o dinheiro der. A pedetista Bia Aroso comandava uma claque de inocentes expondo faixas que ora falavam de uma guerreira, ora falavam de uma boeira do Maranhão.

Gente que já foi secretário, que já tentou ser secretário, que escapou do primeiro escalão para o segundo e do segundo para o terceiro, gente suando aos borbotões procurando qualquer escalão para se encostar. Carecas brilhantes e escovadas aceitando o sol e defuntos que até ontem faziam parte do Cemitério do Gavião se mudando para o Cemitério dos Vinhais.

Em meio a esse espetáculo de adesões profanas, todo mundo ficou reticente ao contemplar as figuras de Mauro Fecury, de Bengala, e Epitácio Cafeteira, em cadeira de rodas. Ambos, talvez, empurrados pela esperança de que ainda é possível correr atrás.

Esse desfile macabro de gente que já morreu, gente que está morrendo e gente que não quer morrer de jeito nenhum deixava a impressão de que o novo governo haverá de construir seu próprio mausoléu.

Havia de tudo. Cantores e cantadores que não cantavam mais, gente que já matou e gente que quase já foi morta, além de uma impressionante multidão de defuntos conectados aos celulares, querendo falar com o além e comunicar a posse da rainha, fotografar a rainha, filmar a rainha-mãe. A rainha, aliás, assim que empossada, abriu os braços e jogou beijos para suas vítimas, aumentando o cheiro de morte que exalava naqueles imensos salões.

E ela agradeceu a um Deus que nunca a abandonou e, principalmente, a “uma justiça que dignifica a democracia”, uma frase de fazer gelar os ossos, de fazer matar o que resta de consciência neste país. Ela leu Lula, o irremovível Lula, a dizer que, agora, investirá no Maranhão. Se não dá para matar um maranhense, aceite pelo menos a possibilidade de um ataque cardíaco, senhor Lula Lá.

Quantas sepulturas políticas foram violadas até que esse momento chegasse! Quantas ressurreições inoportunas e ameaçadoras puderam ser observadas no desenrolar daquele espetáculo! O inevitável cheiro de cinzas de tantos defuntos cremados sugeria que o povo maranhense foi usado como adubo político de uma conspiração jamais vista no país.

Se tivéssemos acesso às fichas de todos aqueles cadáveres, para saber o que fizeram em vida, quando a vida lhes foi dada por José Sarney, estaríamos correndo daqui. O que se viu foi o Dia dos Fiéis Defuntos ser comemorado numa sexta-feira aziaga que sobrará para sempre na memória do Estado. E Deus nos ajude! Aquele espetáculo mórbido deixa evidente que os defuntos deixaram a cova para acabar de enterrar o Maranhão.

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Mortos sem Sepultura: A Oligarquia em Busca de um Mausoléu

Aconteça o que acontecer seremos vitoriosos. Estas palavras não querem calar, ressoam em meus ouvidos incessantemente.

Isto é bem coisa da Maria, me fazendo remexer lá do baú da memória lembranças, lutas e batalhas. Sempre a lucidez corajosa de Maria Aragão.

Afinal a que serve um papel roto, uma assinatura rota, fruto uma manobra rota, promessa rota de um acadêmico roto a um roto literato aspirante a um fardão, igualmente roto, reluzente e fétido?

Serviu para confirmar as ameaças feitas pelo velho coronel do chicote, em artigo "A HORA DA DECISÃO":

"A vitória de Roseana está assegurada" - diz Sarney. De um jeito ou de outro: no voto, na fraude ou no tapetão, pois - ele próprio já anuncia: que o processo das eleições "será julgado pela Justiça Eleitoral, não apenas no Maranhão, mas nas instâncias superiores, isentas e soberanas" (OEMA, 29/10/2006)

Em artigo no JP, "Sarney ou a lógica do voto, da fraude e do tapetão" escrevi:

"No voto ou na fraude. Na fraude ou no tapetão! Eis sua divisa. Foi assim no Amapá com o Capiberibe, por que será diferente no Maranhão com o Jackson?" (JP, 21/11/2008).

Ou nas elegantes palavras professor Francisco Rezek, ministro da Corte Internacional de Haia, "(...) o processo de cassação do governador Jackson Lago me pareceu uma tentativa de golpe de Estado pela via judiciária".

O fato é que tínhamos todos, por dever histórico, que travar desde o primeiro dia do mandato do governador eleito, legitimamente, por maioria absoluta, pela Frente Popular de Libertação, uma luta política sem tréguas contra a Oligarquia Sarney.

Tínhamos por obrigação ter presente, no dia-a-dia, que ela, com o apoio do governo federal, mantinha vivos seus tentáculos em todo o aparelho de Estado, com omissão ou mesmo a complacência de partidos ou setores partidários da própria base do governo eleito.

Em 2008, após ausente um ano e cinco meses de São Luis, candidato a nossa Câmara Municipal, coloquei - como sempre faço - a política a frente do eleitoral.

Por compreensão da História, a defesa do mandato do governador eleito pela Frente de Libertação do Maranhão foi o tema central de minha campanha. Transcrevo trechos do manifesto que distribui nos quatro cantos de nosso São Luis, em 2008;

"Com seu voto você fará história, elegendo vereadores que tenham coragem de enfrentar os poderosos, derrotados em 2006. A oligarquia Sarney não se conforma em ter sido derrubada, apeada do poder, após 40 anos de mando e desmandos.

Hoje, os sarneys querem a todo custo afastar o Governador eleito pelo voto popular, o Dr. Jackson, na ilusão de que podem trazer de volta a dupla Roseana-Jorge Murad.

Eles, além de tentar dividir as forças da Frente de Libertação do Maranhão, criam todo o tipo de dificuldades para impedir que o Governo da Oposição promova o desenvolvimento do nosso Estado".

Hoje, 17 de abril - 12 anos do Massacre de Eldorado do Carajás - a ser confirmada a trapaça da Oligarquia Sarney contra os mais de seis milhões de maranhenses e o Tribunal Superior Eleitoral der verniz de legalidade ao golpe de estado pela via judiciária não seremos nós maranhenses que estaremos menores diante do Brasil.

Será o Brasil, com suas instituições expostas ao desdém popular, que estará sem dúvida alguma ainda menor, apequenado, envergonhado face aos maranhenses.

E eles, os Oligarcas? Os sarneys, os murads, os joses, roseanas, fernandos? Poderão voltar. Mas voltarão não mais com força para deter o poder local, o poder real, a hegemonia que só pode ser exercida pela aceitação da maioria.

É bem verdade que voltarão a ocupar os Palácios, Conventos, e ilhas paradisíacas. Por pura vaidade.

A rigor, aos olhos de todos e do julgamento sereno da História, serão sempre governantes sem legitimidade, autoridade sem respeito, corpos sem vida, mortos sem sepultura...

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* Haroldo Saboia, 58 anos, economista, advogado, Constituinte de 1988, escreve para o Jornal Pequeno todas as sextas-feiras. E-mail: haroldosaboia@hotmail.com


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O Faraó e a Cassação de Lago

Há alguns anos no Egito, fiz ques tão de visitar o Vale dos Reis e nele conhecer a tumba de Tutankamon. No Brasil, quem desejar conhecer algo parecido deve programar uma ida a São Luis, capital do Maranhão. Em lá chegando deve visitar o Convento das Mercês, notável construção portuguesa do século XVII, desapropriada pelo governo estadual e entregue por doação a uma fundação criada para perpetuar o culto à personalidade de Jose Sarney. Reúne documentos e objetos do seu período na presidência da República e vasto acervo da sua vida política. Em uma das suas instalações se defrontará com a tumba mortuária destinada a acolher Sarney, quando da sua passagem para o mundo extratemporal. Certamente receberá a inscrição: “Aqui jaz o faraó do Maranhão”.

Voltando pela terceira vez à presidência do Congresso Nacional, com grande alegria, há uma semana viu o clã, que havia sido derrotado em 2006 nas eleições estaduais, voltar ao poder pela cassação do governador Jackson Lago. Nele foi entronizada a filha Roseana Sarney. O Tribunal Superior Eleitoral acolheu as razões alegadas de abuso do poder econômico que teria sido praticado na campanha eleitoral que lhe infligiria a primeira derrota em 40 anos de domínio absoluto. Derrotada a filha querida, o patriarca Sarney acionou o seu dispositivo poderoso, certo de que seria vitorioso.

A donataria maranhense seria retomada para tranqüilidade e segurança dos interesses familiares enraizados naquela realidade feudal. Antes mesmo do TSE anunciar oficialmente a cassação do governador, o TRE do Maranhão convocou a Secretaria de Segurança e a Polícia Militar para a adoção de medidas preventivas de segurança pública. A desembargadora Nelma Sarney, casada com Ronald Sarney, irmão do patriarca, é a presidente do TRE. A antecipação à decisão da justiça eleitoral em Brasília era clara demonstração do que ocorreria na sessão a se realizar.

Tenho grandes amigos naquele Estado. Um deles é a doce, generosa e solidária figura de dignidade política que se chama Jackson Lago. Prefeito por várias vezes de São Luís, onde o clã sarneico sempre foi derrotado. Daí ser chamado de ilha rebelde. Em novembro de 1979, voltava ao Maranhão, após exílio de 15 anos, o jornalista e ex-deputado federal Neiva Moreira. O inesquecível Ulysses Guimarães designou três parlamentares do MDB para se fazerem presentes quando do desembarque daquela marcante liderança no seu Estado. Ao lado de Odacir Klein e do saudoso Getulio Dias, fomos oferecer solidariedade àquele brasileiro.

Ao chegarmos ao aeroporto, estava Jackson Lago, que não permitiu que fôssemos para o hotel e nos levou para a sua residência, onde nos hospedou por três dias. À noite, na Praça João Lisboa, principal centro político da capital, uma manifestação popular reunindo uma multidão incalculável, tributava a Neiva Moreira homenagem inesquecível. Coordenando o grande comício, o líder e humanista Jackson Lago. Quando me coube a vez de falar, recordo como hoje, comecei assim: “Neiva Moreira, você foi banido e cassado do seu querido Maranhão, para que os marimbondos de fogo borboleteassem nesse mar de corrupção”. O mais triste é que 30 anos depois, nada mudou e o Estado perfila no atraso e no mandonismo clânico.

José Sarney, o dono do Maranhão, não admite contestação. Que o diga o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal Francisco Rezek, advogado do governador Jackson Lago, que acusou o clã sarneizista de “dar um golpe de Estado pela via judiciária”. Recebeu carta de Sarney lembrando-lhe que devia a ele sua indicação para o STF. O advogado Rezek o desmentiu, dizendo que fora indicado pelo general João Figueiredo e que assumiu o cargo em 1983, dois anos antes de a infecção hospitalar vitimar Tancredo Neves e o oligarca maranhense ascender ao poder.

Não satisfeito em adonar-se do Maranhão, o presidente do Congresso Nacional incorporou, desde 1990, a capitania do Amapá. Ali sentou praça e é senador pela terceira vez. Senhor de baraço, sabe usar a corda para estrangular quem queira atravessar o seu caminho. Veja o que aconteceu com outra grande liderança popular do Amapá, exilada pela ditadura, quando Sarney lambia as botas dos generais. Eleito governador, João Capibaribe fez um governo competente e inovador, introduzindo a experiência que acumulou no exterior. Elegeu-se ao final do mandato, senador sempre em oposição a Sarney. Há três anos teve o mandato cassado pelo TSE, a exemplo do que agora ocorreu com Jackson Lago. O senhor de baraço e cutelo é realmente poderoso, como disse o advogado Francisco Rezek em dar golpe pela via judiciária. Na revista Veja (8-4-2009), o jornalista Roberto Pompeu de Toledo fez um retrato perfeito do personagem: “Há muitos campeões do atraso na política brasileira, Sarney é o campeão dos campeões, tanto por antiguidade, sobretudo, por mérito”.

Em um país sem memória, é importante e necessário recordar o passado. Hoje comandante do Congresso Nacional, dono das capitanias do Maranhão e do Amapá, tutor do governo Lula da Silva, o jornalista Merval Pereira em “O Globo” (5-3-2009), relembrou as eleições presidenciais de 1989, e o que o então sindicalista-candidato dizia de José Sarney. Segue a transcrição do que afirmava Lula: “A Nova República é pior do que a velha, porque antigamente era o militar que vinha na TV e falava. Hoje o militar não precisa falar porque o Sarney fala pelos militares e os militares falam pelo Sarney. Nós sabemos que antigamente se dizia que o Adhemar de Barros era ladrão, que o Maluf era ladrão. Pois bem, Adhemar e Maluf poderiam ser ladrão (sic), mas eles são trombadinhas perto do grande ladrão que é o governante da Nova República”.

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* Hélio Duque é doutor em Ciências, área econômica, pela Universidade Estadual Paulista (Unesp). Foi Deputado Federal (1978-1991). É autor de vários livros sobre a economia brasileira, presidente do PSDB do Paraná e primeioro suplente do senador Álvaro Dias

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quarta-feira, 15 de abril de 2009

Nada o Detém?

O que estamos vivenciando nesses últimos meses é de se fazer pensar. Nunca havíamos assistido a um espetáculo tão deprimente, de ações de tão baixo nível, subserviência, constrangimentos e, sobretudo uma demonstração de desrespeito as leis, instituições e pessoas, como tem se repetido ao longo dos últimos meses.

Tudo teve origem quando Sarney se convenceu de que nunca mais voltaria ao poder no Maranhão por meio do voto. Ao analisar pesquisas que mandou fazer e, principalmente, ao fazer a análise do quadro político – coisa que sabe fazer como ninguém – concluiu que só lhe restava uma alternativa para tentar chegar ao poder novamente no Estado: ordenar a execução de um processo para cassar o mandato do governador Jackson Lago.

Daí em diante, suas ações não tiveram mais limites. Nem legais, tampouco éticos, ou de qualquer outra natureza no campo da moral.

O processo que pretende a cassação do governador do Maranhão, como mostrei em artigo anterior, teve uma tramitação totalmente atípica. Recheado de testemunhos falsos, como ficou comprovado na oitiva das testemunhas de acusação, e ainda repleto de filmagens tendenciosas que intantam forjar a ilegalidade de atos inócuos numa eleição (como fartamente argumentado não só pela defesa, mas por vários ministros do TSE no âmbito do julgamento), a referida peça jurídica expõe supostos fatos que serviram de desculpas para a derrota, e confirma a obstinação de Sarney em tentar voltar ao governo.

Contudo, o processo é o que menos importava. É o seu prestígio e poder junto aos Tribunais que ele tenciona fazer prevalecer. A bem da verdade, nisso ele já trabalha há muito tempo e com muita matreirice... Afinal, ele sabe o caminho das pedras, pois já conseguiu cassar João e Janete Capiberibe, no TSE, depois de inocentados na instância local, que, aliás, era constituída por adversários. O motivo, já famoso, foi o testemunho de uma pessoa que alegou ter vendido o seu voto para o casal, por R$ 26.

No Maranhão, o processo de cassação do governador Jackson desconsiderou o TRE, corte onde deveria ser instruído e votado, e foi direto para o TSE. Diferente, por óbvio, do processo do governador da Paraíba, Cássio Cunha Lima, que foi decido pelo TSE somente após a decisão do TRE. Questionando esse fato, existe hoje uma ADPF (Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental) tramitando no Supremo Tribunal Federal, cujo relator é o Ministro Lewandoski.
Mas, voltando ao processo, cabe comentar a ferrenha dedicação do Procurador Eleitoral do Ministério Público Federal a tal peça, verdadeira façanha que chamou a atenção inclusive do Ex-Ministro Resek. Este, também oriundo do Ministério Público, tem como basear suas observações. Em outras palavras, o referido procurador leu milhares de páginas, formou convicção e elaborou o seu parecer em menos de 15 dias. Um portento!

Continuando, na fase de julgamento teve de tudo. A brilhante e competente participação de Resek acabou por irritar profundamente um aturdido Sarney, já alçado a uma posição de força, a custa de uma conturbada eleição para a presidência do Senado, que acabou por transformar aquela Casa em palco interminável de escândalos que ostensivamente se sucedem até agora. Resek tocou no nervo exposto que é a oligarquia que dominou o estado durante 40 anos, transformando-o no mais pobre da federação. Comentou ainda a responsabilidade do Tribunal, no que chamou de “golpe de estado jurídico”, ao tomar a eleição do vencedor e conceder o governo ao perdedor das eleições. Não bastasse isso, o ex-ministro e ex-presidente do TSE, expôs ainda a dominação do grupo por meio de um império midiático em atuação no estado.

Sarney, primeiro, tirou de justa aposentadoria o Ex-Ministro Sepúlveda Pertence, esse sim nomeado por ele, para tentar contrabalançar o brilho de Resek. Depois resolveu agredir este último por intermédio de uma carta pessoal, enviada pelos Correios. Referida carta manteve-se sem resposta, pois Resek, estupefato com as imprecisões que esta continha, não acreditou que o documento fosse mesmo da lavra do Ex-Presidente com fama de estadista e membro da Academia Brasileira de Letras.

Entretanto, não satisfeito, Sarney tentou consumar a agressão que fizera, enviando cópia da carta aos maiores jornais do país. Na missiva, Sarney dá nítidas mostras de que já não controla bem sua memória e suas emoções. Em completo delírio, motivado pela raiva, atribui a si a nomeação do Ministro Resek (nomeado duas vezes para o STF: a primeira pelo presidente João Figueiredo e a segunda, por Fernando Collor). E ainda tentou insinuar que sua nomeação se dera pela indireta interferência de sua primeira mulher.

Resek, como era de se esperar, elegantemente minimizou o destempero de Sarney, constatando que jamais precisou de tribalismos e de oligarquias em sua vida profissional. Sarney não precisava disso. Reduzido e conduzido ao seu devido lugar, o “grande estadista”, em sua sanha de poder, revela a gravidade do seu comportamento: mostra-se por inteiro, tornando claro o seu estilo, ao cobrar a fatura de quem nomeia (neste caso delirante e equivocadamente) nas causas que lhe interessam. Um escândalo em um país sério.

Assim, não chega a surpreender a atitude do Conselheiro Yedo Lobão, do Tribunal de Contas do Maranhão, que, tentando atender o advogado de Sarney, desconsidera o Ministério Público de Contas e usurpa atribuições do Tribunal de Justiça, tudo na pretensão de obstaculizar o governo de Jackson Lago. Como poderiam enquadrar-se como práticas de malversação de dinheiro público a assinatura de convênios com Prefeituras, os aumentos do funcionalismo, os aumentos para o Ministério Público, a promoção de professores etc? Só mesmo no Maranhão dos sonhos do Presidente do Senado...

Por último, assoma-se o anúncio de que Sarney e o governador do Amapá escaparam da cassação de seus mandatos, com a alegação de que seus acusadores não forneceram as fotocópias de alguns documentos. Roseana, por sua vez, tem parecer do Procurador Eleitoral do Ministério Público pela sua absolvição, porque os advogados entraram com recurso extraordinário e não ordinário.

Só mesmo chamando o Macaco Simão, que logo recorreria ao seu colírio alucinógeno...

domingo, 12 de abril de 2009

Afinal o Reconhecimento Nacional de Um Trabalho Sério

Reproduzo abaixo artigo do Professor José Lemos:

Afinal o Reconhecimento Nacional de Um Trabalho Sério

A matéria da Revista Veja desta semana mostrando que o Maranhão foi o Estado brasileiro que mais avançou nos indicadores econômicos e sociais entre 2001 e 2007, apenas vem reconhecer, em nível nacional, a qualidade de um trabalho feito com seriedade e responsabilidade no Estado a partir de abril de 2002. O Índice da Fundação Getúlio Vargas, que envolve 36 indicadores, pode ser de difícil praticidade para, a partir dele, serem desenhadas políticas de desenvolvimento ou de mitigação de pobreza. Contudo, neste emaranhado de indicadores, praticamente são apanhadas todas as variáveis que podem influenciar no desenvolvimento dos Estados inclusive com relação forte entre elas.

Os resultados divulgados não surpreendem, haja vista que temos estatísticas anuais do Maranhão desde 1933, e por isso temos também condições de acompanhar o que acontece neste Estado fonte maior das nossas preocupações acadêmicas e profissionais. No período analisado pela FGV que se estende de 2001 e estende-se até 2007, tendo como fonte os dados as PNAD daqueles anos, foi um período de grandes avanços sociais do Maranhão. O ano de 2001, que serve de base de comparação no estudo da FGV, foi o desaguadouro de um conjunto de políticas equivocadas que se iniciaram no meado dos anos oitenta e que se exacerbou na metade dos anos noventa, chegando àqueles resultados que colocaram o Maranhão na pior situação no ranking nacional, no inicio deste milênio, sob qualquer indicador econômico e social que se avaliasse.

Nos anos setenta, até o inicio da década de oitenta, foram anos de prosperidade na produção agrícola do Maranhão em todos os itens, sobretudo aqueles que eram predominantemente cultivados pelos agricultores familiares, e que se constituem nas principais âncoras da agricultura do Estado. Em 1982 o Maranhão cultivou a maior área com arroz, feijão, mandioca e milho, num total de 2.288.113 hectares. Também em 1982 foi colhida a maior safra de todos os tempos de arroz, feijão, mandioca e milho, num total de 5.430.933 toneladas que, dividida pela população daquele ano ao longo dos 365 dias, deu o recorde de 3.584 gramas per capita. O Maranhão era o terceiro maior produtor de arroz do Brasil.

Celso Furtado, com a sua perspicácia, e com fortíssimo viés Cepalino, ao liderar o GTDN, grupo de trabalho que criaria a SUDENE nos meados do século passado, vislumbrou que o Maranhão deveria ser o Estado receptador dos excedentes populacionais tangidos por problemas da seca dos demais estados do Nordeste.

Por aquela época, ninguém de bom senso conseguiria sequer admitir que o Maranhão pudesse se transforma no Estado mais pobre do Brasil. Aconteceu, contrariando todas as previsões como decorrência de um conjunto de políticas públicas equivocadas que foram elaboradas em nível de Governo Federal a partir de 1985 que acabaram com o Sistema Brasileiro de Assistência Técnica e Extensão Rural. Um Estado com base fortemente agrícola e agrária como o Maranhão, e que tinha na agricultura familiar importante fonte de ocupação e de geração de renda, sentiu muito. Naquele ano de 1985 a produção diária per capita de alimentos no Maranhão regrediu para apenas 1.122 gramas.

A sequência de equívocos avançou com os Governadores que se instalaram a partir de então. Em 1988 o Maranhão foi ao fundo do poço e colheu, em apenas 924.488 hectares cultivados com aquelas culturas a menor produção do Estado registrada pelo IBGE que foi de 1.356.174 toneladas. Naquele ano a produção diária per capita de alimentos no Maranhão também foi a menor registrada no Estado ao longo de uma série que começa nos anos trinta, chegando a apenas 678 gramas, equivalente ao que ocorria em 1934.

No ano base da comparação da FGV, 2001, o Maranhão produzia apenas 959 gramas diárias per capita de alimentos. Naquele ano 62,6 % da população não tinha local adequado para destinar os dejetos humanos; 55,3% da população não tinham acesso à água encanada e 23% da população maior de dez anos era analfabeta. A escolaridade média dos maranhenses, a menor do Brasil, era de 4,4 anos. Estes resultados foram calculados a partir das informações disponíveis na PNAD de 2001. . O PIB per capita do Estado também era o menor do Brasil e não passava de R$ 1.781,45 ou R$ 148,45 mensais representando 82% do salário mínimo daquele ano. O conjunto de privações de serviços essenciais e de renda levou o Estado a ter um índice de Exclusão social de 46% e IDH de 0,673.

A partir de 2002 houve mudança de prioridade e de atitude na condução das políticas públicas, e foram desenhadas ações para resgatar a qualidade de vida dos maranhenses, que tinha como objetivo definido no plano de Governo chegar em 2006 com o IDH de 0,700. Isso passaria por melhorias radicais daqueles indicadores. Assim foi feito, e em 2007 os analfabetos maranhenses maiores de 10 anos regrediram para 17,9%; a escolaridade média ascendeu para 6,1 anos; a população privada de destino adequado de dejetos reduziu-se para 47,3%; a população sem acesso à água encanada recuou para 35,7%. O índice de Exclusão Social declinou para 38%. No período houve a inclusão nos serviços essenciais de 700 mil maranhenses, numa população de pouco mais de seis milhões. . Em 2006 o PIB per capita do Estado ascendeu para R$ 4.212,51 ou R$ 351,04 por mês ficando ligeiramente maior do que o salário mínimo daquele ano cujo valor era de R$ 350,00. A produção diária per capita de alimentos saltou para 1.282 gramas.

Portanto, o trabalho da FGV, divulgado pela Revista Veja, apenas faz justiça a um conjunto de ações de políticas públicas que resgatou a dignidade de milhares de maranhenses e recolocou o Estado nos trilhos do desenvolvimento de onde nunca deveria ter saído e de onde não sairá, porque esta é a vontade soberana da sua população.


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José Lemos é Engenheiro Agrônomo e Professor Associado na Universidade Federal do Ceará. lemos@ufc.br. Autor do Livro “Mapa da Exclusão Social no Brasil: Radiografia de Um País Assimetricamente Pobre”.