sexta-feira, 11 de setembro de 2009

João Alberto: de Enjeitado a Peça Chave

Os rumores sempre ouvidos de dentro do governo são principalmente de desavenças e humilhações contra João Alberto. Eles vem sobretudo de Ricardo Murad - que se julga dono do Justificargestão atual - acostumado que está a não respeitar Roseana e passar, tal como rolo compressor, por cima de qualquer um do governo. Vive às turras com o vice-governador , já que vê neste uma pedra em seu sapato, o único que não lhe baixa a cabeça.

Sabe-se que, ao assumir interinamente o governo, João Alberto promoveu um almoço com deputados estaduais, evento no qual anunciou que queria desanuviar o ambiente político do estado e que daria uma emenda no valor de R$ 50 mil para que os referidos parlamentares, de todos os partidos, melhorassem as brincadeiras de São João nos municípios que escolhessem. O fato é que a verba não saiu para nenhum deputado - para espanto de todos - e as suspeitas recaíram sobre Ricardo Murad. O clima azedou e houve um acontecimento que destoou das usuais práticas do grupo de Roseana, que foi o oferecimento por parte do governador em exercício, João Alberto, de alguns dias para que o presidente da Assembléia, Marcelo Tavares, assumisse e comandasse o governo do estado. Esse gesto, que pegou a todos de surpresa, inclusindo Roseana, foi interpretado como um aviso do vice-governador, para que o respeitassem como merecia ou ele poderia ser protagonista de grande confusão.

Pois bem, agora João Alberto ocupará o centro dos acontecimentos e todos do seu grupo dependerão do seu humor.

Explicando: O senador José Sarney é pai muito preocupado com a família, não só promovendo atos secretos, e, portanto, vê com apreensão que as coisas se complicam para o filho Fernando. O processo corre célere em várias frentes e ele não está controlando a situação. Assim, só vislumbra uma maneira de tentar blindar o filho. Quer que ele tenha um mandato de deputado estadual por causa das imunidades do cargo. Sendo deputado estadual, ele terá pelo menos mais duas instâncias de justiça para recorrer: o STJ e o STF.

Para que se eleja, no entanto, será necessária uma grande manobra política, de muita repercussão, que dificilmente será aceita pelos eleitores. Um novo Sarney na política que quer um mandato somente para se proteger da justiça não é um bom slogan de campanha, convenhamos. Ficará muito evidente a manipulação de um mandato eletivo com finalidade flagrantemente diferente do desejo de servir ao povo.

E soará com estridência, pois sua irmã, que ocupa o cargo de governadora por delegação de quatro ministros do TSE, terá que deixar o cargo para permitir uma candidatura do irmão. Sairá do cargo de governadora para disputar a eleição fora do cargo. Certamente, como tem um sistema de mídia muito grande, ela vai tentar explicar a situação, dizendo que o fato de abrir mão do cargo se dará para disputar de igual para igual o governo com os adversários. Porém, tal estratégia só calhará se João Alberto deixar também o governo. O que não vai acontecer.

Assim, exatamente na hora da eleição, o destino coloca o cargo de governador do Maranhão nas mãos do esnobado vice. Como João Alberto se comportará? A tendência é cumprir o roteiro, mas nunca se sabe... Ele poderá até mesmo, se quiser, ser o próprio candidato a reeleição. Como dizia o saudoso Lister Caldas: “Quem viver, verá”.

Se cumprir o programado pelos donos do grupo, ou seja, os Sarney, e ficar no governo, João Alberto será o maior sacrificado, pois não poderá ser candidato a nada - somente a governador - ficando sem mandato por muitos anos.

Nesse caso, dizem que Lobão e Ricardo Murad seriam os candidatos ao Senado. E João Alberto carregaria todo mundo nas costas. É confusão certa. Tudo para proteger Fernando Sarney!

Enquanto isso, vão tentando levar um governo que só existe na televisão. Cafeteira já dizia que o governo de Roseana começava quando a Tv era ligada e acabava quando a TV era desligada. Nada mudou, continua desse mesmo jeito.

Só se preocupam em entesourar recursos para a campanha política, quando pretendem comprar apoios. Na área da saúde então a coisa é um desfile de descalabros... Os melhores hospitais do interior vão sendo obrigados a diminuir o atendimento, porque os recursos são cortados. Todos estão em municípios governados pela oposição. O procedimento é sempre o mesmo: cortam os recursos e mandam um convite ao prefeito para uma audiência com a governadora. O dinheiro da saúde virou moeda de troca política.

Na outra ponta, as licitações para a construção de hospitais - que tiveram os editais condenados pelo CREA, pois não permitiriam a licitação conforme a Lei - vão sendo abertas e os resultados vão confirmando o que era especulação. Para se ter uma idéia, a maior parte das vitórias nessas concorrências são colecionadas por um empreiteiro amigo do secretário. Na cara de todo mundo!
Vocês se lembram das enchentes que arrasaram grande parte do Maranhão? Ninguém fala mais do terrível sofrimento daquelas famílias... Quem não consegue esquecer são as vítimas, porque até hoje não chegaram a elas as ajudas prometidas, embora mais de R$ 50 milhões de recursos federais para esse fim tenham sido remetidos para as autoridades do estado.

Talvez seja o único estado que não prestou ajuda aos flagelados...

Em Matões, o Frei Benedito concelebrou missa do Divino Espírito Santo e em seu sermão, pediu que rezassem pelos alagados de Trizidela do Vale, que até hoje nada receberam do governo de Roseana. Sim, porque ela, arrogante como sempre, decidiu que não porá recursos do governo lá, pouco se importando com o tremendo sofrimento das pessoas que perderam tudo nas enchentes. Como disse o religioso, se não fosse o prefeito agir (em que pesem as imensas dificuldades de uma pequena prefeitura), tudo estaria perdido para tanta gente. O que será que Roseana pensa sobre “o que é governar”?

Ainda bem que o Senador Tasso Jereissati propôs emenda para acabar com lacunas jurídicas que permitiram a aberração e a ilegitimidade de governar sem ter sido eleito para tal. A emenda foi acolhida pelo relator e deve ser aprovada em plenário com apoio da opinião pública nacional.

E Roseana? Continua calada e invisível, tentando escapar do julgamento da opinião pública sobre essa terrível família.

E assim caminhamos...

Qual vocês acham que será o slogan de campanha de Fernando Sarney para deputado?

Queda de braço no Congresso ameaça reforma eleitoral

As divergências entre senadores e deputados, além da interferência do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), estão pondo em risco a aprovação da reforma eleitoral. A falta de consenso poderá enterrar o projeto, que só valerá para as eleições de 2010 se for aprovado e publicado até o dia 2 de outubro no Diário Oficial. Sem quórum, Sarney adiou para a semana que vem a conclusão da votação da reforma.

Contrário às mudanças na regra para a substituição de governadores e prefeitos cassados, Sarney impediu a votação da proposta anteontem.

"Tem um boicote claro. Ficamos todos surpresos com a reação do Sarney. Na prática, ele derrubou a reforma eleitoral por um caso específico", afirmou o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), autor de emenda que prevê eleição direta quando a cassação de mandato de governador ocorrer nos dois primeiros anos de governo e indireta nos dois últimos anos.

Em abril, a ex-senadora Roseana Sarney (PMDB) assumiu o governo do Maranhão em substituição ao governador cassado Jackson Lago (PDT). Em 2006, ela ficou em segundo lugar na eleição para o governo maranhense. "O que me disseram é que ainda tem uma ação contestando a posse da Roseana para ser julgada e o Sarney ficou com medo ", disse Tasso.

Roseana enfrenta três ações no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por irregularidade eleitoral em 2006, troca de partido e abuso de poder político. "Mas ninguém estava pensando em Roseana, estávamos pensando no futuro", ressaltou o tucano.

O senador Cristovam Buarque (PDT-DF) é da mesma opinião de Tasso. "Sarney continua administrando o Senado como se fosse da família. Ele se sente dono do Senado."

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Senadores acusam Sarney de boicote à votação da reforma eleitoral

BRASÍLIA - Por falta de quórum, a conclusão da votação da reforma eleitoral foi transferida para a próxima terça-feira. A decisão foi anunciada pelo presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), que chegara a dizer mais cedo que seriam votados ao menos os pontos de consenso ainda nesta quinta-feira. Vários senadores acusaram Sarney de ter boicotado a retomada da votação porque sabia que seria aprovada a emenda do senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), que propõe mudanças nas regras para substituição de governadores e prefeitos cassados. ( Os principais pontos da reforma eleitoral )

Na véspera, Tasso e Sarney chegaram a bater boca no plenário por causa da proposta. Diante do impasse, o Senado não pôde concluir a votação das emendas. ( Como deve ser a substituição de um governador e vice cassados na Justiça? )

Tem um boicote claro. Ficamos todos surpresos com a reação do Sarney

- Tem um boicote claro. Ficamos todos surpresos com a reação do Sarney. O que me disseram é que ainda tem uma ação contestando a posse da Roseana (governadora do Maranhão) para ser julgada e ele ficou com medo da votação aqui influenciar o julgamento do Supremo. Mas ninguém estava pensando em Roseana, estávamos pensando no futuro - disse Tasso, autor da emenda que prevê eleição direta quando a cassação acontece nos dois primeiros anos de mandato, e indireta no dois últimos anos de mandato.

O senador Renato Casagrande (PSB-ES) também achou suspeito o comportamento de José Sarney.

- Houve um comportamento muito estranho aqui hoje. Eu achei inadequado o presidente Sarney ir para a tribuna fazer a defesa contra a emenda do Tasso. Mesmo porque a mudança não atinge situações atuais. Boicote a essa matéria é o pior comportamento que pode haver nesse momento. As pessoas podem defender seus interesses, mas não podem impedir as votações - completou Renato Casagrande.

Senador reclama de "operação esvazia"

Autor da emenda que libera a veiculação de conteúdos dos sites durante a campanha, o senador Aloizio Mercadante (PT-SP) reclamou de uma "operação esvazia" na Casa. Várias lideranças partidárias viajaram nesta quinta-feira para seus estados, após terem participado de uma audiência pública com o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão. Com isso, faltou quórum para a conclusão dos trabalhos.

- Parece que rolou uma operação esvazia - reclamou o senador. - O meu medo é que tenhamos que adotar, nas próximas eleições, as regras que foram definidas pela Câmara e que são muito mais duras que as regras definidas pelos relatores (no Senado) - disse Mercadante, referindo-se aos senadores Marco Maciel (PMDB-PE) e Eduardo Azeredo (PSDB-MG).

Os dois relatores também viajaram para as bases. O senador Mão Santa (PMDB-PI), que presidia a sessão na tarde desta quinta-feira chegou a pedir, sem sucesso, a presença dos relatores por três vezes no plenário do Senado.

Além dos relatores, não estavam na Casa o líder do governo do Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), o líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), e o presidente nacional do PSDB, senador Sérgio Guerra.

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Sarney opera para barrar ação do PV que pede eleições na PB

Mais uma vez, o senador José Sarney (PMDB), presidente do Congresso Nacional, volta a interferir nos assuntos políticos da Paraíba. Depois do estrago feito com a decisão do TSE que cassou o governador Cássio Cunha Lima (PSDB), agora Sarney mete a mão na ação movida pelo Partido Verde pedindo a realização de eleições indiretas no Estado, conforme Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental – APDF 155, que está em tramitação no Supremo Tribunal Federal (STF).

Envolvido em diversos escândalos, o senador José Sarney não se contentou apenas em trabalhar politicamente para cassar Cássio, mas segue ‘azucrinando’ os paraibanos, desta vez interferindo junto ao Partido Verde, em nível nacional, a fim que oriente a direção paraibana a retirar a ação. A notícia foi confirmada pelo presidente do PV paraibano, ex-deputado estadual Dênis Soares.

Dênis confessou-se surpreso com o pedido que recebeu da direção nacional, principalmente com a interferência do senador José Sarney no caso. O presidente do Congresso Nacional solicitou a retirada da ação, sob a alegação que não lhe interessava contrariar o PMDB da Paraíba, partido do governador José Maranhão, sucessor do ex-governador Cássio Cunha Lima.

Sob o número 110229, o pedido do PV foi encaminhado nesta quarta-feira, 9, e já está para analise do ministro Ricardo Lewandovisk, relator da APDF de autoria do PSDB nacional que, além de pedir novas eleições, questiona a posse do segundo colocado nas eleições de 2006 na Paraíba.

Dênis não esconde que está desconfiado da articulação do PMDB, “o maior interessado que não passe a tese de novas eleições no Estado”. A movimentação de Sarney é fácil de entender: o presidente nacional do PV é o vereador paulista Zé Luiz Pena, mas o líder do partido na Câmara Federal é o deputado federal Zequinha Sarney, filho do senador José Sarney.

Comentário: Nesse caso Sarney pouco liga para o PMDB. Ele apenas quer evitar que o tribunal julgue a lambança que fizeram, dando o governo para o segundo colocado, que volta a ser questionado. Ele quer evitar o julgamento da Paraíba, porque sabe que isso poderia virar jurisprudência contraria a malfadada decisão. Forçosamente uma reviravolta na Paraíba terá que ser estendida ao Maranhão, tirando Roseana do governo.

É por isso que lutou para que na reforma eleitoral não fosse votada a emenda moralizadora de Tasso Jereissati que manda fazer eleições em todos os casos de vacância do cargo de governador. Ele só luta pelos seus interesses pessoais e da família!

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Sarney muda atitude e tem conversas informais com jornalistas

Ao conversar com repórteres, presidente do Senado dá sinais de que quer transmitir ideia que crise acabou

BRASÍLIA - Depois de dois meses sem dar entrevistas coletivas, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), cedeu nesta quinta-feira, 10, a pedidos de repórteres que cobrem as atividades do Senado e falou à imprensa por três vezes, em momentos diferentes. Foram conversas informais, apesar de Sarney ter acertado com representantes de alguns veículos de comunicação, no início do ano, após sua eleição para a presidência, que só falaria com jornalistas uma vez por semana, em seu gabinete, em horário marcado e com cadeiras para todos se sentarem.

Nas três conversas desta quinta, com jornalistas, Sarney parecia não se incomodar com o desconforto de estar em pé, em corredores, cercado de fotógrafos, cinegrafistas, entrevistadores e seguranças se acotovelando.

Desde que surgiram as primeiras denúncias de envolvimento de Sarney e de diretores do Senado em irregularidades, porém, as entrevistas estavam suspensas. E Sarney passara a se defender ou em pronunciamentos no plenário ou em notas divulgadas por sua Assessoria de Imprensa.

Ao voltar a conversar com repórteres Sarney dá sinais de que quer transmitir a ideia de que a crise está superada. Mas, mesmo nesta quinta-feira, 10, durante a sessão plenária, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) sugeriu a Sarney que convocasse uma sessão do plenário para explicar as denúncias. Na avaliação do senador petista, apesar da decisão do Conselho de Ética de arquivar todas as ações contra Sarney, ainda restaram dúvidas.

Sarney respondeu que prepara um documento em que explica todas as denúncias, mas fez a ressalva de que o distribuirá apenas aos amigos. "É um documento pessoal, não é um documento do Senado. Vou distribuir aos meus amigos, a quem devo essas explicações", disse.

Comentário: Sarney luta para dar uma aparência de que tudo está normal. Não está. E essa de explicar aos amigos é brincadeira…

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domingo, 6 de setembro de 2009

Mataram o Velhinho!

Vi que a calçada estava ocupada por soldados do Exército, com fuzis e farda de campanha



Duas semanas atrás, fez 55 anos que o presidente Getúlio Vargas deu um tiro no peito. Eu morava perto do palácio do Catete, ali na rua Buarque de Macedo, 56, na pensão de dona Hortência.


Na verdade, morava numa vaga de um quarto da pensão, em companhia de dois amigos: Oliveira Bastos e José Carlos Oliveira. Dos três, o único que tinha emprego fixo era eu, na revista do Instituto de Aposentadoria dos Comerciários (IAPC). Bastos e Carlinhos viviam de biscates, escrevendo uma matéria aqui outra ali para algum jornal ou revista, de modo que, com frequência, quem arcava com o aluguel era eu.
A política não ocupava o centro de nossas preocupações, voltadas para a literatura e a arte. Eu andava para cima e para baixo com a "Histoire du Surréalisme", de Maurice Nadeau, que lia e anotava, fosse num banco da Cinelândia ou num bonde que me levava a passeio pela praia do Flamengo. Às vezes íamos à casa de Mário Pedrosa, em Ipanema, filar o almoço ou o jantar e jogar conversa fora.


Mário, sim, preocupava-se com questões políticas, especialmente naquele momento quando a crise institucional parecia caminhar para o desfecho. A tensão crescera definitivamente, quando, num atentado contra Carlos Lacerda, em frente a seu edifício, na rua Toneleros, morreu um oficial da Aeronáutica, que lhe servia de guarda-costas.


Esse atentado justificou a reação de oficiais da Aeronáutica que, por conta própria, instalaram, na base aérea do Galeão, um órgão investigatório e policial para apurar e prender os responsáveis. Esse órgão ficaria conhecido como a "República do Galeão", já que, de fato, tornara-se um poder paralelo ao poder legal do governo Vargas.


A campanha contra ele começara no dia mesmo em que se apresentou candidato à presidência da República, nas eleições de 1950, depois dos anos que passara em sua fazenda em Itu, no Rio Grande do Sul, após ser deposto em 1945. Lacerda, na "Tribuna da Imprensa", jornal que havia sido criado para combater o getulismo, chegou a escrever: "O senhor Getúlio Vargas não pode ser candidato; se candidato, não pode ser eleito; se eleito, faremos uma revolução para derrubá-lo".


De fato, Getúlio candidatou-se, elegeu-se e tomou posse na Presidência do país. Lacerda, por sua vez, não desistiu das ameaças que fizera e desencadeou contra ele uma guerra sem tréguas, com acusações de toda ordem. Foi essa campanha difamatória que levou o chefe da guarda pessoal de Vargas, Gregório Fortunato, a aliciar, por conta própria, alguns pistoleiros para dar cabo do jornalista. Essa iniciativa desastrada, tendo partido de dentro do palácio presidencial, pôs Getúlio em situação indefensável.


Na noite do dia 24 de agosto de 1954, no auge da crise, ele se reuniu com seu ministério, na tentativa de buscar uma saída, mas percebeu, pela atitude da quase totalidade dos ministros, que a sua queda era então inevitável.


Nosso quarto na Buarque de Macedo dava para a rua. Lá pelas quatro da madrugada, acordei com uns barulhos inusitados e, chegando à janela, vi que a calçada estava ocupada por soldados do Exército, com fuzis e farda de campanha. Só então me dei conta de que algo de muito grave estava para acontecer. Vesti-me às pressas e me dirigi para o palácio do Catete, a umas poucas quadras dali. À frente do palácio, havia soldados armados, que impediam a aproximação de pessoas. Carros oficiais chegavam, trazendo políticos e altas patentes militares. Ninguém sabia de fato o que se passava dentro do palácio, mas que a situação era grave, não havia dúvida.


Eu, como muitas outras pessoas, amanheci em frente ao palácio. Logo cedo um bar, que ficava quase em frente, abriu as portas e, assim, pude matar a fome, com uma média e pão com manteiga. O assunto era naturalmente a crise política e todos que ali estavam mostravam-se a favor da deposição do presidente. Eu também, o que era natural, uma vez que a campanha de Lacerda surtira efeito: de minha sogra, que era católica, gaúcha e getulista, ao partido comunista, todos estavam contra Vargas.


Às 8h20 da manhã, pelo rádio do bar, o Repórter Esso, que se dizia testemunha ocular da história, noticiou: "O presidente Getúlio Vargas acaba de suicidar-se com um tiro no coração". Fez-se silêncio até que um sujeito gritou: "Mataram o Velhinho!". Subitamente revoltados, todos passaram a bradar contra o golpista Lacerda.


Essa virada parece ter ocorrido por todo o país, pois logo a multidão tomou as ruas, indignada com a morte de um presidente que, de fato, não roubara nem enriquecera.


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